A cardiomiopatia de estresse também conhecida como síndrome de Takotsubo, muitas vezes chamada de “síndrome do coração partido”, é relativamente subdiagnosticada e o risco de eventos adversos associado à doença é subvalorizado.
É definida como uma disfunção reversível do ventrículo esquerdo na ausência de coronariopatia obstrutiva, frequentemente causada por estresse intenso e que apresenta quadro clínico idêntico ao infarto agudo do miocárdio (IAM). A doença de Takotsubo é muitas vezes erroneamente diagnosticada e confundida com o IAM apesar de ter fisiopatologia e tratamento distintos.
Foi relatada pela primeira vez por Hiraku Sato em 1990 na população japonesa, e seu nome se deve à comparação da forma que o VE assume durante a sístole com o “Tako-tsubo”, usado no Japão para aprisionar polvos. Em 2006, a American Heart Association classificou-a no grupo de cardiomiopatias adquiridas, sob o nome de cardiomiopatia induzida por estresse.
As principais manifestações da doença de Takotsubo são: dor torácica, alterações eletrocardiográficas de isquemia, discreto aumento de enzimas cardíacas e comprometimento segmentar da função ventricular, sem coronariopatia obstrutiva. A doença de Takotsubo representa entre 1,7% e 2,2% dos casos investigados como síndrome coronariana aguda (SCA). O diagnóstico somente pode ser definido após a realização da cineangiocoronariografia e ventriculografia esquerda, que evidenciam, respectivamente, ausência de lesões ateroscleróticas importantes nas coronárias e presença de acinesia ou discinesia apical ou da parte média do VE associada à hipercinesia basal dessa cavidade.
Foi publicado recentemente no JAMA estudo observacional de coorte retrospectiva, os autores determinaram a incidência de cardiomiopatia de estresse ou síndrome de Takotsubo, durante a pandemia, em comparação ao período anterior à COVID-19.
Pacientes atendidos com síndrome coronária aguda, durante a pandemia – entre 01 de março e 30 de abril, submetidos à angiografia coronária, foram comparados a outros 4 grupos-controle de pacientes atendidos nas mesmas condições clínicas em períodos distintos e anteriores à COVID-19 – entre março e abril de 2018, entre janeiro e fevereiro de 2019, entre março e abril de 2019, e entre janeiro e fevereiro de 2020.
Entre os 1.914 pacientes com síndrome coronária aguda, 1.656 pacientes, média de idade 67 anos, 66% homens, apresentaram-se no período prévio à COVID-19 – 390 entre março e abril 2018, 309 entre janeiro e fevereiro 2019, 679 entre março e abril 2019, e 278 entre janeiro e fevereiro 2020; e 258 pacientes, média de idade 67 anos, 67,8% homens, apresentaram-se durante a pandemia, entre março e abril 2020.
Houve um aumento significativo na incidência de cardiomiopatia de estresse durante o período COVID-19, com um total de 20 pacientes diagnosticados – proporção de incidência, 7,8%, comparado com os períodos prévios à pandemia, no máximo 1,8%. Isso representa um aumento de 333% de cardiomiopatia de estresse durante a pandemia de COVID-19.